Um exame de contraprova realizado pela Perícia Forense do Ceará (Pefoce) colocou em dúvida a participação de policiais militares na Chacina de Quiterianópolis, que deixou cinco mortos em outubro de 2020. Segundo o último laudo pericial do caso, há divergência entre um fuzil apreendido com os réus e um estojo localizado no local do crime. Entretanto, a perícia também levantou a possibilidade de manipulação no material enquanto ficou em custódia da Polícia Militar do Ceará (PMCE).
O Laudo Pericial de Eficiência Balística – o qual a reportagem teve acesso -, comparou o estojo 5.56 x 45mm apreendido em Quiterianópolis com estojos padrões do fuzil calibre 5.56.
Apresentou divergência a partir da análise dos elementos de ordem genérica (conformação e localização da marca de percussão), e dos elementos de ordem específica, representados pelos estriamentos finos deixados na espoleta pelo impacto de percussor, que são, por excelência individualizadores neste tipo de exames concluindo o perito que o estojo incriminado não teve sua espoleta percutida pelo atual percussor da arma de fogo 01″, diz a PEFOCE em laudo pericial
A Pefoce ponderou que o exame de comparação balística procura individualizar o estojo com o atual sistema de percussão da arma e que “as peças internas da referida arma, em especial o extrator, ejetor, percussor e culatra do mecanismo de disparo e extração não possuem numeração que as individualizem, portanto, são completamente intercambiáveis com outras armas do mesmo modelo e somente a cadeia de custódia poderia garantir a integridade completa da arma”.
Mas a cadeia de custódia do fuzil analisado levantou uma suspeita entre os peritos. Segundo o documento, “constatou-se que a arma não apresentava mais a etiqueta do lacre quando a mesma foi retirada da Perícia, resultado de possível manipulação da arma na corporação. Constatou-se também que o cano da arma estava obstruído com areia.”
A arma de fogo esteve na posse da Polícia Militar do Ceará entre 1º de fevereiro deste ano e 26 de agosto último, quando retornou à Perícia Forense do Ceará para a realização da contraprova, o que aconteceu somente no dia 17 de novembro, com a presença de peritos, advogados de defesa e um representante do Ministério Público do Ceará (MPCE).
DEFESA PEDE SOLTURA DOS POLICIAIS
A Chacina de Quiterianópolis ocorreu em 18 de outubro de 2020. Criminosos invadiram uma residência onde acontecia uma festa e mataram a tiros Irineu Simão do Nascimento, de 25 anos; José Reinaque Rodrigues de Andrade, 31; Etivaldo Silva Gomes, 23; Antônio Leonardo Oliveira Silva, 19; e Gionnar Coelho Loiola, 31.
A investigação da Polícia Civil do Ceará (PCCE) indiciou quatro policiais militares pela matança: o tenente Charles Jones Lemos Júnior, o sargento Cícero Araújo Veras, o cabo Francisco Fabrício Paiva e o soldado Dian Carlos Pontes Carvalho. Eles foram denunciados pelo MPCE e viraram réus na Justiça Estadual. O sargento Cícero foi solto em outubro do ano corrente, enquanto os outros três PMs seguem presos.
O advogado Daniel Maia, que representa a defesa do tenente Charles Jones, afirmou que a contraprova de Eficiência Balística “desmoraliza de vez e totalmente a frágil acusação que pesa sobre o seu cliente. Agora não tem jeito, eles precisam ser soltos”.
Questionado sobre o laudo pericial, o MPCE informou, através da assessoria de comunicação, que os promotores de Justiça que atuam no caso não iriam se manifestar neste momento, para não prejudicar o andamento processual. Mas, em breve, eles devem prestar esclarecimentos.
Site: Diário do Nordeste